quinta-feira, maio 19, 2005

"A carta da paixão" e a bola...

Bem, é verdade, estive a ler poesia ao meu filho. Curioso, li-lhe a "Carta da Paixão", de Herberto Helder, e ele, apesar de não ter entendido nada, ficou completamente atento, provavelmente pela cadência das palavras. No fim, perguntei-lhe se ele tinha gostado, e ele respondeu que sim. Então expliquei-lhe que não tinha sido o pai que tinha escrito aquilo. Tinha sido um senhor chamado Herberto Helder. "Ai sim? É teu amigo?" claroq ue não conheço o senhor mas, em certo sentido é alguém que me é próximo. Portanto respondi-lhe que sim, que era meu amigo. "Ah... Pai, quando falares com o Herberto Helder podes dizer-lhe uma coisa?"... "Posso... O quê, filho?"... "Dizes-lhe para ele me dar um brinquedo? Ele tem brinquedos não tem? Pode ser uma bola..." Existem coisas que poesia alguma pode alcançar...

quinta-feira, maio 12, 2005

Pai e Mãe

É uma questão de ser. De ser, apenas. Para lá de todas as coisas que nos ensinaram ao longo do tempo. Para lá de todas as coisas que pensamos. E pensamos muitas coisas. Mas depois, depois temos que rever tudo o que pensamos. Acreditar no nosso próprio instinto. Acreditar na nossa forma de sermos pais. Única. Inimitável. No fim, penso que nunca teremos a certeza absoluta da resposta à pergunta "Terei sido um/a bom/boa pai/mãe?". Mas, como em todas as coisas da vida, a única resposta é o nosso instinto, a nossa própria razão. Os seres humanos constroem-se assim. Ou pelo menos deveriam. Os seres humanos que interessam são assim.Tem a ver com perfeição? Nada. Tem a ver com verdade. E com amor. Só. Só quando somos adultos começamos a pensar se somos ou não bons filhos. O que é sintomático. Esta pergunta interessa para alguma coisa? Apesar de poder ter uma origem nobre (o amor pelos nossos pais) ou não (um sentimento de culpa inculcado), é totalmente inócua. Já fomos filhos. Mesmo que o sejamos ainda, fomos mais, muito mais, infinitamente mais, na altura em que tínhamos a sadia inteligência para o ser sem nos ocorrerem estas perguntas. E ser pai ou mãe é o mesmo. Somos sempre. Somos muito. Somos totalmente.Tem a ver com tempo? Tem. Mas como se conta o tempo no amor? Em dias ou semanas? Em horas? Não sei. Não creio. Tem a ver com tempo, mas com tempo efectivo. Tantas e tantas histórias de pais sempre presentes e sempre ausentes. Tem, uma vez mais, a ver com autenticidade. É tudo o que temos a dar. E é muito. É tudo. Autenticidade. Insubstituíveis. Porque o somos de facto. E nem nos damos conta disso.

Nem te dás conta disso.
E isso é tudo.
Nenhuma criança te devolve um sorriso de sol se não te amar.
E um filho ou uma filha nunca, mas nunca, amam por acaso.
Nunca.
Nunca te esqueças disso.


Para uma mãe maravilhosa que acha que não é uma boa mãe.

sexta-feira, maio 06, 2005

Memória



Para que conste, tu, aos 4 anos de idade, aprendeste três números de telefone de cor. Aprendeste-os, fixaste-os e agora sabe-los. Como sabes todos os pormenores de conversas que tivemos,de coisas que vês, que ouves, de coisas que, de uma ou de outra forma, entram na tua vida. Para registar aqui, para que um dia saibas, que aos 4 anos de idade demonstras uma memória que me deixa completamente atónito...