terça-feira, março 08, 2005

Duarte,
Ainda que seja mais para mim do que para ti, falar para ti é, muitas vezes, uma forma de me reencontrar, de simplificar o que me rodeia e, assim, ver como evidente o caminho a seguir.
O caminho a seguir é o da verdade. O caminho a seguir é o de mim para mim próprio, para que possa estar mais próximo de ti, mais próximo (efectivamente próximo) de todos aqueles que me rodeiam e me amam.
O caminho é ser um pouco como tu. Ou melhor, é ser muito como tu. É reduzir as coisas à tua dimensão ou, mais certamente, elevá-las à tua dimensão.
Na tua dimensão, as coisas tornam-se claras, e revela-se evidente o caminho a seguir. Os caminhos, muitas vezes, encontram-nos repletos de dúvidas, de medo de podermos errar, falhar, tomar decisões contraproducentes. Então temos que fazer como tu fazes. Olhar para o que sentimos que queremos, olhar para o que, no fundo de nós, sentimos estar correcto.
Isto é mais importante ainda quando compreendemos que esse caminho não será, num primeiro momento, fácil. É provável que, num determinado momento, nos encontremos sozinhos. Alguém me disse que nunca estamos sozinhos porque o amor está em toda a parte. Talvez assim seja, de facto. Mas visto o caminho correcto, mesmo que sozinhos, não nos resta outra opção que não seja segui-lo. Onde irá dar este caminho? Onde irão dar todos os caminhos? Nunca podemos saber a priori. Mas podemos, porém, saber que se nos seguirmos a nós próprios, se seguirmos a parte de nós que é capaz de dar, não existe acontecimento futuro que nos possa tirar esta coisa essencial: o gostarmos de nós. O gostarmos de quem somos. E isso, isso vale tudo. Isso mata as noites pesadas, isso suporta os dias difíceis.
Falar para ti e falar de mim. Sempre, ao longo deste tempo, tenho aqui falado de ti (e de mim também, num certo sentido), mas agora é mesmo de mim que te falo.
Para que saibas que as coisas que mudaram em mim, mudaram porque urge viver a vida num caminho que nos aproxime de nós próprios, do que de melhor podemos ser. Porque só assim também poderemos estar mais próximos dos outros.
Para que saibas que tavez os próximos tempos seja complicados. Não para ti, de nada te aperceberás, porque eu sou uma redoma que te protege. Porque és a pessoa mais importante da minha vida e dos meus lábios verás sempre um sorriso, um sorriso verdadeiro, verdadeiro por te amar.
Mas serão complicados, provavelmente.
Mas, com a força de um regresso a mim próprio, encontrar-me-ei no fim desse caminho. E serei uma pessoa melhor.
E eu precisava que tu, ainda que seja daqui a 10 anos, soubesses que no dia 8 de Março de 2005 eu precisei, para encontrar toda a força em mim, de te escrever, de procurar a tua visão do mundo.
Toda a força se encontra em ti.
Como um dia se encontrou em mim.
Efectuo o caminho de regresso. A mim.
Por mim.
Por ti.
Para ti.